5O café chegou a ser tão importante para a economia brasileira que deu origem aos chamados “barões do café”, homens riquíssimos que dominavam regiões inteiras devido às suas plantações — sustentadas, na maioria das vezes, pelo trabalho escravo.
Atualmente, não existem mais “barões do café” nem escravos, mas o café ainda é um importante produto de nossa economia. Historicamente, o Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de café de todo o mundo.
Veja agora a rota do café em terras brasileiras, em uma trajetória que começa no campo de cultivo e segue até a mesa de quem compra e consome essa bebida tão saborosa e incrível! Boa leitura!
Nossa história começa no agricultor do café — cafeicultor. Tomemos como exemplo o nosso conhecido Jeca Tatu. Depois que se curou de suas mazelas, ele tornou-se um importante cultivador de café e gerenciador de processos logísticos.
Sua fazenda é composta por muitos alqueires de terra plantados somente com café, que sai para o comércio nacional e também para outros países. Antigamente, os caminhos do café eram trilhados em estradas de barro e sobre o lombo de jumentos e burros. Atualmente, o café atravessa rodovias em caminhões de diferentes tamanhos.
Outra grande transição que vem ocorrendo é a demanda por diferentes tipos de café em diversos mercados. O café divide-se em dois tipos de plantas: a arábica (aroma intenso e variações de corpo, sabor e acidez) e a robusta — ou conilon, com 50% mais cafeína.
O Jeca Tatu planta as duas variações em suas terras, investindo nas subcategorias e combinações, os blends (como o Bourbon Amarelo e o Vermelho). Seja qual for a variedade de café, ele precisa ser colhido e transportado da fazenda para outros pontos e cooperativas, onde é devidamente armazenado e expedido para as indústrias.
O café da fazenda do Jeca segue a seguinte rota:
O Jeca também exporta parte do que produz por meio do Porto do Rio de Janeiro. Ele mantém, ainda, uma pequena fábrica de moagem em suas terras, produzindo café para seu próprio consumo e para venda local. Trata-se da marca Café JT, comercializado em embalagem artesanal.
Na Cooperativa de Tucanos, uma das grandes preocupações com a armazenagem e a distribuição do produto é em relação à sacaria. Os membros adotam o uso de big bags, embalagens que substituem os sacos de juta tradicionais (que suportam 60 kg).
O big bag é confeccionado, geralmente, a partir do polipropileno (um tipo de plástico) e já vem com duas alças de içamento, tornando bem mais fácil o manuseio e dispensando o uso de pallets.
O big bag suporta até 1,5 tonelada de café verde, o que corresponde a 25 sacas. Ele pode ser empilhado em até 4 unidades — ou mais, desde que exista uma estrutura adequada. Os big bags, além de práticos, são baratos, podem ser reutilizados e permitem a impressão de informações, como o nome do produto e do produtor.
Assim, o café do Jeca e dos outros produtores da região é armazenado com segurança e economia de espaço. Outras vantagens do uso de big bags são:
Dos armazéns da Vila de Tucanos, o café do Jeca é transportado pelas rodovias até o seu destino. Essa etapa logística é uma das mais preocupantes, pois envolve custos altos e problemas ambientais.
É necessário contratar uma transportadora responsável que seja comprometida com o desenvolvimento sustentável, reduzindo, assim, a emissão de gases poluentes.
Veículos velhos poluem 10 vezes mais. Por isso, convém substituir os veículos mais velhos da frota por caminhões mais novos, com certificação do Inmetro que assegure menos consumo de combustível e menos emissão de poluentes.
Durante um tempo, para reduzir emissão de gases, a rota do café do Jeca era, basicamente, essa:
Ou seja, não havia intermediários. Um caminhão próprio levava o produto diretamente da fazenda para os supermercados. Essa estratégia contribuiu para reduzir entre 20% a 30% as emissões de carbono. Outros produtores resolveram seguir seu exemplo.
A queima de combustível por meio de transporte é a terceira maior causa de poluição ambiental no mundo, contribuindo para o aquecimento global. Antes dela, estão a geração de energia elétrica e a produção industrial.
No Brasil, os carros, aviões e navios correspondem a um percentual de 9% da emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. O desmatamento das florestas e o uso indevido da terra são os campeões nesse quesito.
Os compradores de café mais esclarecidos tendem a observar a cadeia de suprimentos e dar preferência às empresas que transportam seus produtos emitindo menos poluentes.
Uma boa estratégia usada pelos membros da Cooperativa de Tucanos é mapear o volume de café e definir um cronograma que prevê o tempo de carga e descarga e o tempo consumido nas viagens, aproveitando da melhor forma o potencial dos veículos e reduzindo a quantidade de viagens.
Eles fazem isso em parceira com as empresas de transporte de carga contratadas e com alguns veículos que a própria cooperativa adquiriu. Para realizar suas entregas pessoais (o café torrado e moído em sua pequena fábrica), Jeca Tatu adotou o uso de um carro elétrico, que se desloca até a vila e aos povoados vizinhos, sem emitir nenhum tipo de gás poluente.
Como nas grandes cidades a circulação de veículos movidos a combustível é muito grande, essa iniciativa é um exemplo de como adotar um novo modelo de infraestrutura de transporte.
Um dos pontos mais preocupantes para os produtores de café da Vila de Tucanos está relacionado aos perigos que a carga, o veículo e o motorista enfrentam nas rodovias.
A falta de infraestrutura nas estradas é um deles, pois o Brasil ainda possui muitas rodovias em péssimo estado de conservação, mal iluminadas e pouco sinalizadas. Algumas chegam a ser intransitáveis em tempos de chuva.
Os assaltos também são comuns, o que torna os caminhos do café extremamente sinistros. É fundamental, portanto, usar sistemas eficientes de rastreamento e monitoramento para reduzir os riscos. Na hora de contratar uma empresa de transporte, é importante que seja feito, ainda, o seguro de carga.
Seguindo a rota do café do Jeca (e de seus colegas da cooperativa), chegamos a algumas indústrias cariocas, que se responsabilizam pelos processos de torrefação, moagem e embalagem dos grãos de café.
A variedade mais vendida pelo Jeca Tatu é a arábica Bourbon Amarelo. Na indústria, os grãos de Bourbon são aquecidos a uma temperatura que varia entre 180 a 240 graus por um período de 7 a 15 minutos. Quanto maior o tempo de torrefação, mais escuro ficará o grão.
Quando os grãos demoram 15 ou mais minutos sob a ação do torrador, a torrefação recebe a denominação de “expressa”, cujo café é muito forte. As torrefações de 11 minutos recebem o nome de “urbana”.
Já os grãos de 7 minutos são os preferidos dos americanos e apresentam cor mais amena. Cafés torrados entre 12 e 13 minutos são muito consumidos pelos vienenses e franceses.
Outro processo desenvolvido nas indústrias é a moagem dos grãos de café, a fim de oferecer o melhor café gourmet. A moagem média é usada para o café expresso (essa moagem garante que o café fique com a concentração mais adequada).
Muitas pequenas empresas estão investindo na torrefação e na moagem do café, visando principalmente à distribuição local. Indústrias maiores produzem o café moído e o comercializam para diferentes estados, cidades, regiões e países.
Quanto maior a indústria, melhor a tecnologia disponível. Com isso, recursos mais avançados têm acelerado os processos de torrefação, moagem e embalagem do café.
Das indústrias, os caminhos do café chegam ao varejo, especialmente aos supermercados e hipermercados. Mais uma vez, o transporte se faz necessário, alcançando diferentes pontos de venda e distribuição.
Na indústria, pode-se falar de dois tipos de transporte: internos e externos. Os internos realizam o deslocamento do produto dentro da própria unidade de produção. Os externos referem-se aos que levam a matéria-prima (os grãos de café) até a indústria e os que saem da indústria até os pontos de distribuição.
A Indústria de Café Moreira e Silva, por exemplo, vende sua produção para três supermercados, uma loja de atacado e diferentes empresas de pequeno e médio porte dentro da cidade. O transporte é feito por meio de caminhões.
Para não gastar muito com armazenamento, uma das empresas que compram da Moreira e Silva aplica a técnica cross-docking, que dispensa o armazenamento em longo prazo. O café chega em um caminhão até o depósito da empresa, onde é separado de outros produtos e enviado diretamente para os clientes.
O transporte está localizado na parte dos fundos do depósito, pronto para receber e conduzir a mercadoria. O cross-docking permite maior velocidade nas operações de venda e menores custos com armazenagem.
Finalmente, depois que o café do Jeca é transformado na indústria — ou seja, torrado, moído e embalado — e transportado para o varejo e o atacado, o consumidor final já pode comprar o café e desfrutá-lo.
O consumidor que compra no supermercado, nas vendas ou mesmo no atacado é considerado o consumidor final — ou seja, nele se encerra o ciclo da cadeia produtiva do café.
A rota do café se inicia no caminho de terra entre a fazenda Coffee Break e os armazéns da Vila de Tucanos e termina na casa do Sr. João de Deus, que sai de sua casa em seu Uno, entra no supermercado Compre Aqui e compra dois pacotes do Café Moreira e Silva sem saber que ele foi plantado nas distantes terras do Jeca Tatu, um dos maiores produtores de café do país.
Como foi explicado, a rota do café é longa na cadeia produtiva e envolve diversos custos relacionados ao transporte, à armazenagem, à mão de obra, aos impostos e a outros aspectos.
Jeca Tatu planta o café e torna-se o primeiro elo nessa cadeia de suprimentos. Depois, ele colhe os grãos e os conduz à Vila de Tucanos em seu caminhão particular.
A Cooperativa dos Produtores de Café encarrega-se de armazenar o produto, acondicionando-o em big bags. A Cooperativa é um elo intermediário nessa cadeia, representando todos os produtores da região.
O destino principal do café armazenado na vila é a cidade do Rio de Janeiro, para a qual ele é transportado em caminhões da própria entidade ou por meio de empresas transportadoras de carga. Vendido em algumas indústrias, tem início uma nova etapa: a produção do café industrializado.
A indústria, que pode ser considerada o segundo elo da cadeia na rota do café, responsabiliza-se pela torrefação, moagem e embalagem do café, na qual vai impressa sua marca. O elo seguinte é formado pelas empresas que distribuem e vendem o café industrializado ao quarto e último elo, o consumidor final.
No caso de exportação, o caminho é diferente. Jeca exporta diretamente parte de seus grãos, conduzindo-os em transporte próprio até o Porto do Rio de Janeiro. Os grãos são depositados em grandes contêineres de navios de carga com destino à Alemanha, aos Estados Unidos e à Bélgica.
Nesse caso, os caminhos do café são bem mais longos e demorados. Ele cruza o imenso Atlântico rumo a diversas nações, onde será transportado a indústrias que repetirão o mesmo processo feito no Brasil e, por fim, distribuído em empresas que venderão à população local.
No entanto, muitas indústrias brasileiras também exportam o café já embalado. Nesse caso, ele chegará aos outros países pronto para ser vendido e consumido.
As operações logísticas que envolvem a produção/comercialização de café devem ser bem planejadas para evitar prejuízos para quaisquer elos da cadeia produtiva — o cliente final deve ficar satisfeito com o produto que consome, pois sem esse consumidor a produção e a industrialização do café não faz sentido.
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