Da fabricação a balada: conheça os caminhos da logística do jeans

| 26/01/2018 - 11:01
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O jeans é um dos mais populares materiais usados na confecção de roupas — mais especificamente calças, bermudas, jaquetas e saias. Esse material é, na verdade, um tipo de brim, duro, resistente. Às vezes um pouco difícil de lavar, muito embora já estejam sendo fabricadas peças mais leves e macias hoje em dia. Nesse post, veremos em que consiste a logística desse tecido tão célebre.

 

Uma breve história do jeans

Antes de começarmos a falar sobre a logística do jeans, vamos conhecer sua história. Em Gênova, cidade italiana, em 1567, os marinheiros já usavam calças que eram conhecidas pelo nome de “genoeses” ou “genes” (certamente, o famoso marinheiro Cristóvão Colombo deve ter usados genoeses). Essas calças eram confeccionadas na cidade de Nimes, na França.

Em 1792, a indústria têxtil de Maryland (EUA) tornou popular o uso de um algodão trançado que era muito parecido com o material produzido em Nimes. Esse tecido de algodão recebeu o nome de “denim” (abreviação de “tecido de Nimes”).

No século XIX, o denim foi muito utilizado para cobrir carroças durante a corrida do ouro na Califórnia. Nesse período, o judeu alemão Lévi-Strauss teve um insight e resolveu usar o tecido para fabricar calças, pois não estava conseguindo vendê-lo na Califórnia devido à saturação no mercado.

Lévi-Strauss fabricou algumas calças com o tecido e deu-as a alguns garimpeiros. Essas calças eram mais resistentes que aquelas que eles costumavam usar, de modo que o sucesso foi imediato. Nascia, assim, o jeanswear.

Observe, a seguir, a linha do tempo do uso do jeans como vestimenta:

  • 1853: surgiu a empresa de confecções Levi Strauss & Company;
  • 1860: adicionaram-se botões de metal;
  • 1873: Levi Strauss e Jacob Davis patentearam os rebites de reforço;
  • 1886: adicionou-se a etiqueta de couro;
  • 1890: apareceu o jeans de coloração azul (o jeans verdadeiro), a partir de uma planta chamada Indigus;
  • 1910: adicionaram-se bolsos traseiros;
  • 1970: o jeans desfilou nas passarelas (iniciativa de Calvin Klein);
  • Século XX: o uso do jeans tornou-se popular na rotina das pessoas, que se inspiraram nos filmes de caubóis, cantores famosos (James Dean, Marylin Monroe, Marlon Brando e outros), soldados da Segunda Guerra Mundial e hippies.

A logística do jeans

A logística é um processo que envolve um conjunto de operações que se inicia com a produção da matéria-prima e se encerra quando a mercadoria é descartada como lixo. A logística reversa, no entanto, propõe a continuação da cadeia produtiva a partir de um novo ciclo, que começa com a recuperação ou reciclagem do produto descartado.

Até o início da confecção do jeans, existem muitas etapas, como a plantação do algodão pelo produtor rural até a utilização desse produto como consumo. A seguir, entenda melhor esse processo.

As etapas da cadeia produtiva do jeans

As etapas da cadeia produtiva do jeans integram os três setores principais da economia: primário, secundário e terciário. Primeiramente, o produtor rural planta o algodão, que é o insumo necessário para a produção do jeans na fábrica. É na indústria têxtil que o algodão sofrerá mudanças, dando origem a fios e tecidos que poderão ser tingidos.

As fábricas de confecções adquirem esse material transformado das empresas especializadas ou das tecelagens.

O modelo do produto final é desenvolvido pelo estilista, profissional da moda especializado na criação de roupas e acessórios. Ele influencia decisivamente a forma como as pessoas se vestem, criando tendências no mercado.

O fluxograma, as matérias-primas e os componentes na cadeia produtiva do jeans

O fluxograma da logística do jeans pode ser facilmente representado por meio dos seguintes elementos, dispostos na seguinte ordem:

  1. Criação;
  2. Modelagem;
  3. Especificações;
  4. Encaixe;
  5. Corte;
  6. Montagem;
  7. Acabamento;
  8. Comercialização.

Outra forma de representar esse fluxograma seria assim:

  1. Fornecimento da matéria-prima;
  2. Contratos;
  3. Fabricação;
  4. Produto fabricado;
  5. Estocagem/inventário;
  6. Distribuição;
  7. Logística;
  8. Varejo (venda em retalho);
  9. Cliente (venda ao freguês).

As matérias-primas envolvidas na confecção do jeans variam conforme o componente. Por exemplo: para produção do tecido, são utilizadas as seguintes matérias-primas: algodão, poliéster e elastano. Para a manufatura do zíper, são usados alumínio e níquel. Já para o botão, empregam-se matérias-primas como liga de zinco, bronze e plástico.

A armazenagem e a distribuição na logística jeans

Uma das grandes preocupações dos varejistas é balancear o inventário e manter sua competitividade em alta. Felizmente, a logística do jeans é bastante transparente e tem servido como referência para a cadeia de suprimentos de outras categorias.

Vale a pena aplicar uma abordagem eficiente em relação ao armazenamento de confecções, considerando suas características principais, como durabilidade do material (no caso do jeans, trata-se de alta durabilidade) e vulnerabilidade ao mofo (o que implica na necessidade de armazenagem em instalações com temperatura controlada).

O varejista que buscar respostas eficientes para essas considerações tende a desenvolver processos logísticos mais enxutos e menos onerosos.

O Just In Time é um dos pilares em que se ampara a Logística Enxuta, ou seja, a produção de itens conforme a demanda da mercadoria. Da mesma forma que ocorre nas indústrias, acontece nas lojas de varejo: elas compram somente a quantidade suficiente para suprir as necessidades de seu público, evitando estoques muito grandes, caros e desnecessários.

O varejista deve conhecer bem a rede da cadeia de suprimentos da qual faz parte. Apenas assim torna-se possível ter consciência de todas as suas operações, pois ele terá informações detalhadas e úteis para o negócio. Com as ferramentas de visibilidade e comunicação adequadas, é possível controlar todas as mudanças súbitas de demanda.

O jeans é um material produzido e comercializado em diferentes partes do mundo. Consideremos o processo de distribuição realizado pelo jeans de três locais diferentes para um só destino, a cidade que mais consome jeans: Nova Iorque, nos EUA.

Considere um exemplo: pares de calças jeans de luxo são confeccionados em Los Angeles, com algodão doméstico. Em seguida, chegam a Nova Iorque para serem vendidos em uma loja ou usados em uma sessão de fotos. Para sair de Los Angeles e alcançar a Ilha de Manhattan, o custo não chega a ser um problema, mas o tempo é apertado: as calças jeans devem ser despachadas por frete aéreo.

Nesse caso, o transporte de distribuição envolve dois modais: primeiramente, o rodoviário (que leva a mercadoria da fábrica até o aeroporto) e o aéreo (que conduz a mercadoria até seu destino final). O prazo de entrega entre origem e destino final é de dois dias.

Outro exemplo: pares de jeans masculinos são produzidos no México e enviados para Nova Iorque para serem vendidos em uma loja de confecções. O modal usado é o rodoviário, ou seja, um caminhão conduz a mercadoria do México para os Estados Unidos (países vizinhos). O tempo gasto no percurso entre origem e destino é de uma semana.

Em um terceiro exemplo, pares de jeans femininos são enviados a Nova Iorque, sendo produzidos por países diferentes do Sudeste Asiático (como Malásia, Singapura, Indonésia e Tailândia). O tempo, nesse caso, não é tão importante quanto proteger a empresa destinatária de uma margem de lucro pequena.

Desse modo, são usados 2 modais diferentes em 3 etapas: primeiramente, o rodoviário, que leva a mercadoria até o porto; do porto, dentro de um navio, as calças jeans viajam até alcançarem a América do Norte; já na América do Norte, mais uma vez, é solicitado o modal rodoviário, que conduz o produto até Nova Iorque. Essa rota envolve rodovias e mar e leva aproximadamente três semanas.

O Brasil também se destaca por sua produção de jeans, havendo fábricas como: Biotipo (São Paulo, capital); Bivik Jeans (São Paulo, capital); Denuncia (Cianorte, Paraná); Emphasis Jeans (Votorantim, São Paulo); Girassole (Aparecida de Goiânia, Goiás); Megaduran Jeans (Toritama, Pernambuco); Usacon Indústria de Confecções Ltda. (Tapejara, Rio Grande do Sul); Uze Jeans e Xtra Charmy (Brás, São Paulo, capital).

Entre as marcas de jeans originadas no Brasil, podemos citar: Civil Jeans (marca mineira que produz modelos masculinos e femininos); John John (marca destinada especialmente ao público jovem) e Sergio K. (uma das mais importantes marcas de roupas masculinas do país). São marcas que se inspiraram nos modelos de jeans mais comuns, como:

  • regular ou straight: modelo padrão, calça mais folgada e confortável, reta da coxa à barra (o Levi’s 501 é um exemplo);
  • bootcut: tipo cowboy (para ser usada com botas), tem a barra mais larga;
  • loose fit: tipo rapper, um pouco mais larga, às vezes caindo;
  • skinny: tipo muito colada ao corpo.

A economia sustentável da Levi’s

Existem basicamente dois motivos que comprometem a sustentabilidade da indústria em geral:

  1. a competitividade, que cria uma verdadeira guerra de preços baixos, gerando produtos de menor qualidade;
  2. a complexidade e a opacidade da cadeia produtiva, que descentraliza as etapas de produção de uma indústria de confecções, terceirizando, quarteirizando e expandindo as operações de um modo tão indiscriminado que se torna mais difícil manter o controle sobre os padrões de sustentabilidade.

A Levi’s, por sua vez, vem desenvolvendo um trabalho de produção sustentável muito eficiente, que favorece a logística do jeans, cujo fluxograma é assim representado:

  • Entrada do material;
  • Processo de transformação;
  • Saída do material;
  • Processo de eliminação;
  • Final da vida do material;
  • Recuperação/reutilização/melhoria do produto;
  • Produto recuperado/material reciclado;
  • Processo de reutilização, dando início a um novo ciclo com a entrada do material.

A Levi’s trabalha diretamente com abastecimento da Índia. Ela assina contratos com os fornecedores de cadeia de suprimentos com maior foco em sustentabilidade e bens ecológicos.

Mais de 95% da produção da empresa se realiza com algodão dos Estados Unidos, da China, da Índia e do Paquistão. O algodão é transformado em fios em diversas fábricas do mundo todo.

A empresa norte-americana geralmente não compra tecido diretamente das fábricas, mas costuma formar boas parcerias que levam à sustentabilidade. Ela se mostra comprometida com o Abastecimento Global Responsável.

Quando as roupas ficam prontas para serem enviadas, a empresa distribui o produto por meio de seu próprio setor logístico.

Os fornecedores da Levi’s na Índia incluem: Alpine Apparels Pvt. Ltd. (Bangalore); Ambattur Chothing Company (Chennai); Aviram Knitters (Tripura); GO International (Tripura); BEST Garments (Tripura); Bombay Rayom (Mumbai); Casual garments (Tripura); EXIM Clothing (Tripura 27); SSGC Pvt. Ltd. (Deli NCR & Bagalore).

Os custos para confecção de uma bermuda jeans

Os custos são, sem dúvida, um dos principais pontos a considerar na logística do jeans. Para entendê-los melhor, observe estes dados retirados do artigo produzido pela UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense):

Considerando uma bermuda tamanho 40, os custos envolvem: meio metro de tecido (0,5 m); 0,7 m de entretela; um botão; um zíper; um cone de linha; uma etiqueta; uma etiqueta de decomposição; uma tag; uma embalagem. Cada cone de linha é suficiente para confeccionar aproximadamente nove bermudas.

Esses custos envolvem um total de cerca R$ 3,58.

Em relação aos custos com cada operação, temos que:

  • mapear e cortar consomem, em média, cinco minutos e representam um gasto total de R$ 0,19;
  • costurar consome, em média, 30 minutos e representa um custo total de R$ 1,11;
  • passar e embalar consome um tempo médio de cinco minutos e representa um custo total de R$ 0,19.

No total, há um custo de R$ 1,48.

Em um total de 40 minutos de mão de obra para cada bermuda, o funcionário recebe um valor X por minuto. Considerando que esse valor mensal seja de R$ 380,00, a remuneração por minuto é de R$ 0, 037.

Logo, o custo total da mão de obra por uma bermuda é de R$ 1,48 (0,037 x 40).

Os custos com energia podem ser assim calculados. Consideremos que 1 kW de energia custe R$ 0,417307. Para cada kW, incide um custo para capacidade emergencial de R$ 0,011315. Há um custo geral de R$ 0,428622 por kW. Para confeccionar uma bermuda jeans tamanho 40, foram detectados os seguintes consumos: 5 lâmpadas (0,27 kWh); máquinas (1,1 kWh); ferro (0,09 kWh).

O custo total com energia elétrica é obtido somando-se todos os valores, ou seja, 0,11572794 + 0,4714842 + 0,03857598 = R$ 0,62578812 (ou, aproximadamente, R$ 0,63).

Vale também considerar os custos com impostos, que são recolhidos após a venda da bermuda. Para o cálculo do imposto de uma bermuda jeans, é necessário resolver o sistema abaixo:

  • P = o custo de cada item;
  • D = despesa sem incluir o custo;
  • I = imposto de cada item.

Juntando os valores acima, temos:

  • R$ 3,58 (materiais para confecção);
  • R$ 1,48 (mão de obra);
  • R$ 0,63 (energia);
  • R$ 0,79 (imposto).

Teremos, então, o custo unitário total por produção de uma bermuda jeans, tamanho 40, que é de R$ 6,48.

Agora você já sabe todos os detalhes sobre o processo que leva o jeans das fábricas até o seu guarda-roupa. Essa peça curinga, capaz de se adaptar às mais diversas ocasiões, pode iniciar sua jornada lá na Índia e terminar na sua balada do fim de semana. Interessante, não é?

Se você gostou desse post ou acredita que a logística do jeans pode inspirar a logística de outros produtos e empresas, aproveite e compartilhe-o nas suas redes sociais! Dessa forma, seus amigos também ficam por dentro da história dessa peça!

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Redação Cargo X
26/01/2018 - 11:01

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